sexta-feira, 23 de julho de 2010

Fotografia.


Os olhos quebram-se no fim da imagem, do rectângulo de espaço que o tempo encarcerou. Existe uma vida gelada em cada fotografia. Um fóssil. Uma história e uma memória. Cada imagem é uma pausa que nos remete para um antes e um depois. Não interessa se reais ou imaginados. À captura silenciosa segue-se o barulho do rebentar da onda, segue-se a passagem veloz do comboio. Antecede-se o crispar do vento nas costas da água, antecede-se o apito ensurdecedor da aproximação. À captura silenciosa sucede a consumação do afecto e precede a palavra dita em surdina ou o olhar fixado num corpo. A fotografia é a liberdade da construção de um tempo que é nosso, e, paradoxalmente, o aprisionamento de um fragmento de tempo que passou. A fotografia é um regresso a um passado onde se não volta mais.